"8 horas de trabalho, 8 horas de recreação, 8 horas de descanso". Foi assim que Robert Owen (1771-1858) - um fabricante de têxteis galês bem conhecido como um dos fundadores do socialismo utópico e do movimento cooperativo - cunhou os direitos da classe trabalhadora na sua grande fábrica de têxteis em New Lanark (Escócia).

Se as "8 horas de trabalho" têm sido a principal luta dos sindicatos ao longo dos últimos séculos e as "8 horas de descanso" são uma necessidade do corpo humano, o tempo para a recreação tem sido, cada vez mais, controlado e consumido. O tempo para a recreação tem sido absorvido pelos deslocamentos diários casa-trabalho, presença online em tempo integral e disponibilidade de trabalho, espaços virtuais e físicos de consumo, e assim por diante. Não há espaço para ficar entediado, preguiçoso ou simplesmente não fazer nada. Esse é o primeiro desafio para a próxima praça MAXXI: fazer um lugar para fazer nada.

Imagens

Memória descritiva

Como projetar uma praça que também possa ser um espaço livre onde as pessoas possam ficar entediadas, preguiçosas ou simplesmente não fazer nada?

Começando pela ideia de que a celebração do décimo aniversário do MAXXI, deve ter um impacto urbano, deverá ser visível do exterior, mas que também pode representar uma expressão de conflito com sua arquitetura, propomos um silo cilíndrico de cor sólida que irrompe da praça e do betão. Altura e proporção relacionam-se e entram em tensão com a forma e os volumes do edifício existente. O palco relaciona-se com o silo, mas afasta-se do seu interior posicionando-se numa área onde pode facilmente se expandir e mover. Dentro do silo, haverá apenas um espaço sombreado e três redes com quinze assentos serão continuamente refrescados por um anel climático através de nebulização de água. O percurso que liga o silo ao palco abraça e cria um novo espaço público criando áreas para sentar e permanecer.


Como podemos pensar no impacto urbano sem nos tornarmos a próxima mercadoria?

Algo que mudou muito nos últimos 10 anos na arquitetura, ao nível europeu, é a forma como olhamos para as pessoas e processos. Esse silo alto deveria ser o local para, ocasionalmente, projetar uma retrospectiva de 10 anos do MAXXI na sua parede interior (também pode ter outro tipo de projeções, como filmes ou complementos de intervenções na praça) e 10 anos das pessoas que trabalharam no MAXXI projetadas nas paredes de betão do museu - desde o trabalhador de limpeza até o curador, do operador de telefone ao diretor. Revelando os nomes e os rostos das pessoas que, por detrás das paredes da instituíção, garantem a sua existência. A melhor forma de desmercantilização do espaço é mostrar quem habita e trabalha, humanizando a instituição. O conteúdo dessas imagens e filmes projectados será o tema principal a ser desenvolvido até maio.


Como pode ser sustentável?

Uma das questões importantes sobre a sustentabilidade de um museu é a quantidade de resíduos que gera. Resíduos esses que são descartados ou acumulados em volumosos depósitos com a aspiração de que, um dia, uma parte deles possa ser reutilizada. Ao trabalhar com museus, começamos sempre por dizer que estamos interessados no seu lixo. O Silo será estruturado numa estrutura PON alugada, garantindo que será reutilizado em outras intervenções e que nós, ou o Museu, não o teremos que o adequir ou o armazenar no futuro. Por outro lado, a lona será adequirida nova, mas durante o período em uso na praça, será lançado o apelo para sua reutilização por organizações locais sem fins lucrativos. Como já afirmámos na declaração de intensões, a criação de lugares e o envolvimento local são também questões de sustentabilidade social.


Como pode ser usado para se relacionar com a cidade?

A nova construção pode ser visível, mas a localização no espaço público condicionado, encerrado à noite, faz-nos refletir no que a nova estrutura pode oferecer à cidade. O desenho de um caminho transitável entre as duas camadas pretende proporcionar uma nova e excepcional percepção do bairro, como as Escadas de Roterdão até o Kriterion. Mesmo que não intencionalmente, podemos agora entender que nossa visão dos corredores sempre foi muito influenciada por uma mistura das estruturas de Constant Novas Babilónias e dos desenhos de escadas de Piranesi. 


Embora apresentando uma solução muito tangível e formal, pensamos que os próximos passos também fazem parte do processo arquitetónico. Na verdade, esse é o principal problema disciplinar que queremos enfatizar. A arquitetura também pode ser expressa pelo processo em uma sucessão de erros, correções e desenvolvimentos. Até esta fase, concentramo-nos principalmente em definir uma estrutura e projetar as alianças que podem torná-la possível. A questão, até abril, será definir conteúdos. A partir de maio, criar um lugar e, a partir de outubro, fazer com que tudo seja reutilizado, repensado e circular.

Ficha técnica

Nome do projecto
YAP MAXXI Roma | Concurso
Categoria geral
Equipamento
Exposição
Concurso
Cliente
YAP Rome at MAXXI
Localização
Roma, Itália
Estado
Projecto
Data de início
2020