Escola Secundária de Cascais | Concurso
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#312
O que se propõe para a escola é uma estrutura de betão corrente e despojada de artifícios que origina dois pisos e dois espaços de características opostas. O piso inferior organiza o programa de uma forma flexível e potencialmente reorganizável a cada momento de reconfiguração das práticas pedagógicas e o piso superior onde se desenvolvem os espaços de cariz mais público e uma praça que procura centralizar uma nova urbanidade aberta num território demasiadamente enclausurado por estruturas condominiais encerradas sobre si próprias.
Imagens
Memória descritiva
Que
escola teremos em 2050?
Remetendo-nos
ao que conseguimos dominar, não faz sentido desenhar uma escola para
ser construída nos próximos anos sem colocar como eixo central a
questão climática. Na proposta que apresentamos a concurso
consideramos três estratégias decisivas:
a) Construção: reutilização dos resíduos produzidos pela demolição dos edifícios e escavações;
b) Climatização: utilização de um sistema de aquecimento geotérmico que aproveite a proximidade do mar;
c)
Aproximação: fortes condicionamentos no acesso viário à escola
para promoção da deslocação por meios pedestres e cicláveis.
Sendo
certo que há materiais com melhor comportamento ambiental que o
betão, parece-nos pouco eficaz e dogmático retirá-lo das nossas
práticas construtivas. No contexto português, parece-nos mais útil
pensar de que forma poderemos produzir betão de uma forma mais
sustentável do que parar de produzi-lo. Por outro lado, rejeitamos
em absoluto a padronização das respostas (e imagens)
arquitectónicas pela via da sustentabilidade ou pelo seu
condicionamento financeiro.
A
solução proposta parte daquela que nos pareceu a atitude mais óbvia
perante o programa e o território, localizado no
Bairro do Rosário, com forte carácter residencial, a oeste da vila
de Cascais. A criação
de um plano horizontal à cota da Avenida
Pedro Álvares Cabral, que desenvolve dois pisos a partir do
declive natural do terreno e que resolve desde
logo a questão da acessibilidade universal. Este
plano horizontal e os pilares que o suportam são a coluna dorsal da
intervenção,
à qual a
arquitectura juntará os órgãos, os músculos ou a pele que lhes
dará sentido.
Ao
contrário de outras realidades na Europa, a escola portuguesa é
tradicionalmente murada e de acesso reservado. A utilização dos
espaços da escola pública por gente “fora da comunidade escolar”
só é permitida, em casos
extraordinários e, tantas vezes, pela via do aluguer. Não
ignorando os problemas de financiamento e as questões de manutenção
ou segurança, parece-nos fundamental questionar o papel da escola
como um equipamento público estruturante e, desde logo a partir do
projecto, promover a discussão em torno dos equipamentos que mais
facilmente poderão ser absorvidos pelas populações vizinhas e
contrariando a lógica vigente da criação de condomínios
ensimesmados.
Assim é definido um primeiro conjunto composto por espaços passíveis de serem abertos à comunidade fora dos períodos lectivos e que ocupam uma posição mais próxima de acesso ao exterior. Destácam-se as áreas desportivas (pavilhão e espaço exterior), auditório e biblioteca com uma posição estratégica de centralidade na Praça.
O
espaço escolar mais convencional situa-se no piso inferior de
carácter mais reservado. No
limite a Sul, junto à entrada principal e portaria, dispõem-se os
serviços administrativos e de gestão, que ligam aos espaços de
convívio dos alunos. No extremo oposto localizam-se o refeitório e
a cantina e um grande espaço polivalente exterior coberto que se
projeta em anfiteatro. Articulam-se
com
espaços de circulação e reunião, tanto interiores como
exteriores, que assumem algum protagonismo pela sua dimensão em
desenho de proposta.
A
proposta critica a concepção da escola na sala de aula, nos espaços
formais de aprendizagem e na ideia do espaço controlado e
delimitado; explora elementos mais permeáveis como os grandes
envidraçados, espaços interiores abertos, flexíveis e adaptáveis
a diferentes usos. O
programa de aprendizagem desenvolve-se no limite Norte, o espaço da
sala de aula normativo baseado na repetição e agregação do seu
módulo. As
salas quadrangulares,
desfasadas entre si, permitem que parte se estenda para o corredor e
outras para o pátio.
As
salas de Artes Visuais e Ciências (laboratórios) abrem-se ao
exterior, beneficiando do pinhal.
Essencial
no desenho de uma escola para 2050, prende-se com as formas de
aproximação e chegada à mesma. Desenvolvemos um projecto em
conformidade com as melhores práticas de acesso universal e
condicionamento de velocidade automóvel nas suas áreas limítrofes,
priorizando os acessos pedonais, cicláveis e por intermédio de
motociclo. Estimular o acesso de bicicleta, com programas de
formação ao contexto urbano, a criação de parqueamento seguro em
frente à escola e o estabelecimento de uma rede ciclável entre
escolas e de transporte público.
A proposta, não é apenas uma resposta a um concurso mas, o resultado de uma reflexão sobre o que deve ser uma escola pública e a forma como se deve inserir no seu contexto urbano – físico e social.
A
intenção de que esta escola possa ser o centro de uma transformação
urbana física e de relação dos residentes com o seu contexto, mas
também que seja utilizada e percepcionada como um território de
livre utilização e acesso. Um edifício referência que permita
cruzamentos e diálogos intersociais, intergeracionais e
multiculturais, numa atitude que não dispensa a análise
antropológica.
Depois da reabilitação de diversas escolas pelo país, a proposta pretende experimentar aquilo que seria impossível no modelo clássico de produção de escolas em série. Esta escola deve construir-se como um manifesto, uma reflexão crítica capaz de influenciar o posicionamento de outras escolas e em que cada momento da sua construção deve procurar radicalizar as perguntas para obter melhores respostas, na esperança que o dia da inauguração seja apenas o primeiro dia de uma escola que está permanentemente a reinventar-se.
Ficha técnica
- Nome do projecto
- Escola Secundária de Cascais | Concurso
- Categoria geral
- Equipamento
- Concurso
- Cliente
- Município de Cascais, Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos
- Parceiros
- João Torres
- Localização
- Bairro do Rosário, a Oeste da vila de Cascais., Portugal
- Estado
- Projecto
- Áreas
- 20,000
- Data de início
- 2019
- Data de conclusão
- 2020
- Arquitectura Paisagista
- Adriana Gil
- Estruturas
- BETAR – Eng.º José Pedro Ferreira Venâncio
- Hidráulicas
- Eng.º Rita Duarte
- Eletricidade & Telecomunicações
- Blueorizon - Eng.º Mário Boucinha