Ao intervir na Rua Morais Soares ao nível dos passeios, passagens de peões, paragens de autocarro e implementando medidas acalmia de tráfego enquanto Rua Amiga do Peão, a avaliação da situação actual centrou-se na reflexão sobre as adaptações necessárias para que este eixo fundamental na cidade de Lisboa ofereça apropriadas condições de acessibilidade.

Para tal procedeu-se a um diagnóstico exaustivo dos problemas que a Rua Morais Soares a partir de sucessivas visitas ao local em que foram identificados os problemas, efectuadas medições, observados e registados os comportamentos dos utilizadores das via pública: peões, condutores, utilizadores de transportes públicos. Foram também recolhidas informações junto de moradores, utilizadores habituais da via e comerciantes, por uma identificação mais completa dos problemas sentidos no local e analisadas publicações e comentários on-line referentes a intervenções na Rua Morais Soares, levando em consideração a descrição problemas que os utilizadores encontram nesta artéria e enunciação de propostas de melhoramento.
Tendo em conta a sua localização e ligações que estabelece entre grandes áreas da cidade, a Rua Morais Soares é uma via com tráfego automóvel intenso e não menos intenso tráfego pedonal, uma rua nitidamente estruturante na rede percursos pedonais nesta área da cidade, aglutinadora da população da zona em que se insere, onde – à excepção da Av. Almirante Reis, via de 2º Nível da Rede Rodoviária Municipal, com um carácter distinto – são poucas as ruas equiparáveis em termos de oferta de comércio e serviços.
Do encontro da população local com o tráfego de atravessamento resulta um uso desordenado da Rua Morais Soares, como referido nas publicações encontradas e pelos interlocutores, moradores ou não nesta área de Lisboa, com quem contactámos.
Durante o dia, ao movimento de um elevado número de peões que se cruzam, na maioria das vezes, em passeios demasiado estreitos para o número de pessoas que os percorrem, somam-se aos veículos estacionados ao longo da via os veículos particulares e comerciais parados aleatoriamente na faixa de rodagem, deixando livres apenas as faixas centrais para que o trânsito flua. Tal prática, que frequentemente obriga os autocarros a parar em plena via nas faixas centrais, força a redução da velocidade de passagem mas não é suficiente para assegurar que o condutor não percepcione a rua como uma via com duas faixas de rodagem, semaforizada, utilizando-a com velocidade excessiva para a aleatoriedade de situações com que actualmente nos deparamos na Rua Morais Soares. À noite a velocidade dos veículos aumenta significativamente.
Da análise aos atropelamentos registados entre 2004 e 2015 destacamos que do total de 29 atropelamentos registados, 10 referem-se a pessoas com mais de 65 anos e 8 de crianças e jovens até 18 anos; destes 12 atropelamentos ocorreram em passagens de peões, 7 dos quais em passagens semaforizadas onde, em 5 casos, estava sinal verde para o peão. Estes dados confirmam que as passadeiras existentes não oferecem segurança a quem as atravessa potenciando situações de perigo.
Face ao diagnóstico efectuado, a proposta tem como principais objectivos criar condições para ocupação do espaço por esplanadas e escaparates e maior oferta de espaços de estadia, aumentar o número de lugares de estacionamento e facilitar cargas e descargas.
Ao longo de toda a Rua Morais Soares é proposta a criação de um percurso contínuo em pavimento liso e livre de obstáculos a par da adaptação de paragens e passagens de peões garantindo as condições de acessibilidade adequadas ao uso por pessoas com mobilidade condicionada e, na prática, as desejáveis condições de segurança e conforto a todos os peões.
Identificada como principal problema a permanente ocupação de uma faixa de rodagem em cada sentido por veículos parados ou mesmo estacionados, muitos dos quais para efectuar cargas e descargas dos estabelecimentos comerciais, propõe-se a disponibilização de uma extensão destinada a estacionamento superior à actual através da redução de uma faixa de rodagem no troço com menor concentração de veículos onde serão reservados lugares para cargas e descargas. Esta solução permite também reduzir os estrangulamentos dos passeios oferecendo mais espaço à circulação pedonal e maior oferta de espaços de estadia e áreas passíveis de ocupar por esplanadas sem por em causa os percursos pedonais.
O avanço do passeio sobre a via permite ainda a redução da distância de atravessamento reduzindo o tempo necessário aos peões para o fazer o que aumenta a sua segurança e, uma vez que quase todas as passadeiras são semaforizadas, a redução do tempo de atravessamento dos peões facilita também a maior fluidez do tráfego automóvel.
Qualificando o espaço público de modo a oferecer maior conforto e consequente distribuição mais equitativa do fluxo pedonal, propõem-se a plantação de árvores ao longo do passeio norte, onde a exposição solar dificulta a sua utilização tanto nos períodos mais quentes como por encadeamento. As caldeiras localizar-se-ão ao longo da faixa de estacionamento por forma a manter o passeio livre de obstáculos sem por em causa o aumento significativo da oferta de lugares de estacionamento. São ainda indicados locais onde colocar bancos que idealmente deveriam integrar outros equipamentos necessários, como papeleiras, procurando a todo o momento reduzir os obstáculos no passeio.