(Fotografias da exposição de encerramento do processo participativo a decorrer no Palácio Marquês de Abrantes - Setembro 2022)

No dia 30 de Setembro entregámos o anteprojecto participado para a reabilitação do Palácio Marquês de Abrantes, no âmbito do Protocolo existente entre a Câmara Municipal de Lisboa e a cooperativa Trabalhar com os 99%, que aqui disponibilizaremos assim que o município o autorizar.

Este foi um processo que se iniciou em 2015, quando entrámos pela primeira vez no Palácio, e cujo anteprojecto decorreu ao longo do último ano e integrou instituições e moradores do território da Rua de Marvila. Implicou uma mudança estrutural na nossa prática profissional, pois movimentámo-nos para o Palácio onde desenvolvemos a nossa prática projectual.

Levamos deste território e do edifício do Palácio um sem número de histórias de sucesso. Trabalhámos de perto com as pessoas e com a Sociedade Musical 3 d' Agosto, apoiámos a transferência do ponto de distribuição da Fruta Feia de Marvila para o Palácio, tivemos no restaurante da Sociedade um parceiro, um abrigo, uma família.
Mas também é bom que se deixe escrito que manter actividade aberta num edifício desocupado e devoluto, não é o paraíso que se parece ver nas fotografias. Não esquecemos os dias em que não pudemos trabalhar porque faltava a electricidade, as permanentes tensões pela entrada de água das chuvas, a tentativa de manter todas as janelas fechadas e as intrusões. Cremos que tivemos um papel importante na preservação do património público ao longo dos tempos em que aqui estivemos e em estreita articulação e com o apoio da Direção Municipal de Manutenção e Conservação - Departamento de Habitação Municipal (DHM).
Pela nossa parte, este foi um processo em que experimentámos e aprendemos muito do ponto de vista profissional.
Do ponto de vista internacional, este processo ganhou uma relevância que não esperávamos. A construção do gabinete local foi distinguida como uma das 40 obras finalistas (shortlisted) do Prémio de Arquitetura Contemporânea da União Europeia - Mies Van Der Rohe 2022, o processo foi seleccionado pelo Mediterranean City-to-City Migration Project da UCLG - Committee on Social Inclusion, Participatory Democracy and Human Rights, e fomos sendo referidos e referenciados em diversos locais, conferências, prémios e publicações.

Não nos tendo ainda sido comunicado se o processo que levámos a cabo poderá ter continuidade parece-nos claro que o edifício ganhou um carácter público, aberto e de relevância territorial, que não será fácil de justificar o caminho de hasta pública a que estava confinado em 2017. No entanto, também temos consciência que a ausência de respostas e medidas levará a que as suas condições de habitabilidade se vão degradando e fazendo com que as instituições que o ocupam vão desistindo dele.
O que nos parece claro é que um edifício público desta relevância, nunca deve estar fechado e, mesmo em processo de reabilitação ou discussão sobre o seu possível uso, deve ser usado até ao último dia, servindo as pessoas e as instituições. Isso tem a imensa vantagem de garantir a segurança do edifício, sem custos para o erário público, e alguma preservação e manutenção do construído.
Mais, parece-nos que um processo participativo sobre a ruína de um edifício devoluto fechado e guardado por uma empresa de segurança, terá sempre outros resultados e um diferente envolvimento das populações e entidades locais. Hoje, a vizinhança fala sobre o Palácio Marquês de Abrantes como um equipamento seu, que pôde visitar ao longo destes anos e sobre o qual foi chamada a pensar e emitir opinião.
Teríamos e temos todo o prazer e interesse em continuar a desenvolver este processo até ao dia do início das obras de reabilitação do Palácio, no entanto, por ora, iniciamos o nosso processo de mudança para outro lugar sobre o qual escreveremos em breve.