O adeus à Praia da Dona Ana, por José Veloso
[PT] Chegou-nos este texto do nosso colega José Veloso com um pedido de divulgação. A primeira fotografia vinha anexa ao texto, a segunda circula nas redes sociais.
A Baía de Lagos sempre foi uma maravilha. Para quem anda no mar, dele tirando o sustento, dele buscando refugio, ou nele encontrando prazeres. No centro, estende-se o areal da Meia Praia, livre e aberto. No lado ocidental, a Costa d´Oiro, desde Lagos até à Ponta da Piedade, encanta pela beleza natural.
Um dia, desconhecem-se os antecedentes e os motivos, alguém, ministerial, decidiu melhorar a Costa d´Oiro. Olhou, e viu a praia da D´Ana. Uma estreita faixa de areia encostada ao recatado fundo dum recesso das falésias e por elas enquadrada, uma pequena jóia ambiental e paisagística, delicado fruto da acção da natureza, respeitada e admirada como o ex-libris orgulho de Lagos.
Por todo o mundo, os conhecedores chamavam à praia da D´Ana uma das mais belas, senão mesmo a mais bela, praia do mundo, de Portugal certamente. Poetas, jornalistas, artistas plásticos, escritores, sentiam-se seduzidos, espelhavam o seu encantamento em expressões imorredoiras, fotógrafos de apurada sensibilidade divulgavam enquadramentos deslumbrantes.
No entanto, o acesso, maltratado pela indiferença e incúria, está por lanços de escada provisória de madeira, atravessando as ruínas e o abandono dos restos de demolições, o troço de falésia junto exigia tratamento da erosão causada pelas chuvas, um cano supostamente destinado a excesso de águas pluviais, acontecia despejar esgoto mal cheiroso.
Mas corrigir isto, não está previsto na obra em curso. São quase 2 milhões de euros e o areal vai ser alargado à grande, com mais 40 metros, vai subir 4 metros, vai ficar muito, muito, melhor. Vão caber largos montes de turistas e banhistas, vão caber 3 concessões balneares, vão caber filas repetidas de toldos de preferência com ar tropical, abrigando perfeitos alinhamentos de cadeiras de plástico de estender, vai ser uma praia moderníssima, de 5 ou mais estrelas. Vai passar a ser tal e qual como a mais banal praia do mais indiferente local das mais vulgares revistas interessadas em viagens turísticas tipo pacote tudo pago. Outros olhos dirão que vai ser a estúpida pedra falsa, no colar de pérolas autenticas da Costa d’ Oiro.
Ter-se-ia esperado que as autarquias locais, tomando conhecimento da intenção de levar a cabo esta, como facilmente se imagina, inteligentíssima, oportuníssima e utilíssima obra, teriam movido céus e terra, acompanhando as manifestações populares, para esclarecer a insensatez e orientar aquela verba para a necessária beneficiação dos acessos e envolventes.
Mas não. A Câmara Municipal, pela voz da impositiva maioria absoluta PS, dá o aval. Dá o indecoroso espectáculo da atitude primária de concordar sem apresentar fundamentação cultural, técnica e socialmente sustentada, face à expressão de válidas opiniões e argumentações contrárias.
Prefere dizer adeus à praia da D`Ana, tesouro público que herdou e vê destruir.
José Veloso (Julho 2015)